Carolina Tanaka Meneghel assumiu cargo de professora em Piracicaba.
Ela foi aprovada em um concurso público municipal no início deste ano.
A professora de educação física Carolina Tanaka Meneghel, de 29 anos, que nasceu sem os braços, realizou o sonho de começar a dar aulas. No início do ano, ela foi aprovada em concurso público da Prefeitura de Piracicaba (SP), cidade onde mora, e aguardava a convocação. A professora Carol, como é chamada agora, deu sua primeira aula no dia 21 de julho na Escola Municipal Professora Judith Moretti Accorsi.
“Está sendo fantástico, estou realizando meu sonho. Estudei quatro anos para me formar. E agora estou trabalhando na área. Venho para ensinar as crianças, mas a cada dia também estou aprendendo com elas”, afirmou.
Para Sergio Roberto Romanini, coordenador de educação física da Secretaria Municipal de Educação, a jovem é um exemplo de vida para professores e alunos.
“Ela é uma figura motivadora. Sua história de superação nos trouxe o desafio de ter como colega de trabalho alguém que vence limitações com muita vontade e dedicação.”
Primeira aula
Antes de estrear na unidade de ensino escolhida por ela, Carol já se preparava para o novo desafio. “Para mim tudo é muito diferente, cheio de novidades. Eu já estava me preparando porque sabia das dificuldades que poderia enfrentar.”
A professora disse que o primeiro contato com os alunos foi de bastante conversa. Segundo ela, quando as crianças a viram, fizeram muitas perguntas e ficaram curiosas. “Eu expliquei para eles que nasci sem os braços, contei tudo que faço com os pés. E também falei que precisaria da ajuda deles durante as aulas. Eles me receberam muito bem e não sofri nem um tipo de preconceito. Mesmo porque falei que não aceitaria nenhum tipo de brincadeira nesse sentido.”
Comando pela voz
Carol disse que, durante as aulas, explora bastante a fala para orientar as crianças e ensiná-las a fazer os exercícios da melhor forma. “A minha voz é minha guia. É com ela que prendo a atenção das crianças. Eu falo o que elas precisam fazer e elas fazem. Quando preciso demonstrar a forma correta de alguma atividade, que utiliza os braços peço ajuda para um dos alunos.”
Em uma das atividades em que mescla educação física e brincadeira, Carol estimula os alunos a usarem o raciocínio rápido com a matemática e, ao mesmo tempo, a correrem atrás dos amigos. É o pega-pega do par ou ímpar (veja vídeo acima).
Auxiliar
A Prefeitura informou que irá contratar um auxiliar para Carol. “Eu sei das minhas limitações e sei que preciso de alguém para me ajudar com a organização dos materiais da aula e também para fazer algumas demonstrações”, comentou a professora.
A coordenação de educação física da administração municipal afirmou ainda que busca formas para ajudar Carol no trabalho desde que ela foi selecionada. “Quando soubemos que ela seria professora da rede, nos preocupamos com o oferecimento da estrutura necessária para que ela desenvolva seu trabalho. A Prefeitura providenciou um processo para contratação de um profissional que vai auxiliar nas tarefas específicas para as quais ela possa precisar de ajuda”, disse Romanini.
A escola
A diretora da escola, Mariza Turolla Grin, contou que a chegada de Carol não alterou a rotina da unidade. “Nós não sabíamos, que a Carol viria para cá. Não a conhecíamos. No entanto, foi tudo muito natural. As crianças a receberam com muita tranquilidade. No começo ficaram curiosas, mas depois foi tranquilo. A escola precisou fazer uma adaptação simples no banheiro e nada mais”, disse a diretora.
Já a coordenadora da unidade, Josiane Cristina Stenico de Souza, relatou que a deficiência de Carol não atrapalha nas aulas. “Nossa preocupação com todo professor novato é a adaptação e como será a didática com os alunos. Mas em uma semana de trabalho já percebemos que ela é muito dedicada. Sempre pede ajuda e sugestões para melhorar as aulas.”
Josiane contou que antes de Carol ser selecionada para dar aulas na rede, os alunos da escola já recebiam orientações sobre todo potencial das pessoas com deficiência. “A professora Ângela Maria de Oliveira, do 4º ano B, trabalhou com os estudantes obras de artistas que, por suas deficiências, usam os pés para pintar. Nessa atividade, enquanto os alunos faziam a leitura das obras, outro estudante usava os pés para tentar desenhar.”
Os alunos
Carol dá aulas para turmas do 1º ao 5º ano e as crianças dizem aprovar a nova professora. “Ficamos impressionados quando ela começou. Imaginei que ela daria aulas bem legais. A professora Carol ensina a gente de um jeito diferente, com brincadeiras que eu nunca tinha feito. É muito legal”, disse Victoria Barbosa da Silva, de 9 anos, e que está no 3º ano do ensino fundamental.
Para Lívia Pissinato, de 8 anos, também do 3º ano do ensino fundamental, as aulas têm sido “maravilhosas”. A garota contou que adora as brincadeiras que fazem parte da educação física. Já a estudante Bruna Matos Geraldi, de 8 anos, fez questão de falar do exemplo de superação dado pela professora.
“Estou adorando as aulas. Gosto das atividades e brincadeiras que ela nos ensina. Além disso, aprendemos que cada pessoa é de um jeito e que temos que respeitar todo mundo”, disse a aluna do 3º ano.
Além da escola
No dia a dia, Carol faz praticamente tudo com os pés. Ela abre portas, come, se arruma, lava louças, dirige, escreve e até é capaz de fazer “selfie”. Apesar das dificuldades e da necessidade constante de adaptação, a jovem conta que nunca deixou de fazer o que sente vontade.
Fonte: Globo.com