O agora vice-presidente do Sinpefesp, Antonio Rogério Magri, aborda, nessa entrevista, os problemas do sindicalismo atual e, também, dos trabalhadores perante a Reforma da Previdência.
O senhor tem história ligada ao sindicalismo. Como se sente voltando a ocupar a diretoria de um sindicato, o Sinpefesp?
R.: O sindicalismo sempre esteve no meu sangue. Nos últimos 20 anos venho assessorando diversos sindicatos e centrais. Mas uma coisa é assessorar, outra, é estar com o microfone na mão, podendo ir à base organizar o trabalhador em torno de seus direitos. Esse contato me revigora. Não tolero injustiça. E injustiça é o que mais acontece nas relações entre o capital e o trabalho.
As coisas mudaram muito desde que fui líder da categoria dos Eletricitários de São Paulo. O neoliberalismo, de capitalismo selvagem, implantado ainda no governo de Michel Temer fez a Reforma Trabalhista, tirando dezenas e dezenas de direitos legítimos da classe trabalhadora. Para tanto, fez uma campanha massiva de mídia visando a enfraquecer os sindicatos que, infelizmente, não vêm sendo ouvidos também no governo Bolsonaro.
O patrão está com a faca e o queijo nas mãos. Já quem trabalha e constrói o nosso País, está sem voz e sem vez. Isto não pode continuar. A mobilização de classe é urgente. Caso contrário, o desemprego vai continuar com índices alarmantes e, os que exercem alguma atividade, estão legalmente desamparados, ganhando menos e trabalhando mais. Não deixar que isso aconteça é o desafio do Sinpefesp e o meu desafio também.
O que o senhor acha da categoria dos profissionais de Educação Física?
R.: Posso falar de cátedra. Sou profissional de Educação Física. Tenho número de Cref por atuar na área como professor de judô. Lidar com o segmento é dotar a sociedade de cidadania. Todos sabemos que a prática esportiva, devidamente orientada, é sinônimo de saúde, educação, lazer, cultura e, principalmente, de inserção social. Esporte desenvolvido, povo desenvolvido. O nosso país só atingirá qualidade social na medida em que houver política de esporte clara e motivadora, acabando com males de nossos tempos como a escalada das drogas.
O que o senhor pensa da reforma da Previdência proposta pelo governo?
R.: O Dieese está na fase de conclusão de seus estudos sobre os efeitos da PEC 6/2019, que propõe a reforma da Previdência apresentada pelo presidente Jair Bolsonaro. De cara, o instituto, idôneo e confiável, afirma: o cidadão vai trabalhar mais, contribuir mais e receber um benefício menor. Alguém duvida? Pelo contrário. Essa é a essência do plano. O sindicalismo não é contra mudanças. Mas quer fazer parte dos debates, apresentar ideias e soluções. Democracia se faz com diálogo. E diálogo não está havendo, pelo menos até o momento. Julgo que, do jeito que está, a reforma pretendida não passa na Câmara e no Senado. Muita água ainda vai passar por debaixo dessa ponte.
Há quem diga que a Previdência não é deficitária…
R.: Isso ficou provado em Comissão Parlamentar de Inquérito, quando a Cobap, juntamente com o senador Paulo Paim (PT-RS) e diversos parlamentares realizaram severa fiscalização na previdência e apuraram desvio de verbas, fraudes, sonegações e todos os tipos de irregularidades. Quem deve na banca não são – e nunca foram – os trabalhadores, mas sim os patrões que, juntos, são responsáveis por uma sonegação no valor de R$ 450 bilhões. Ou seja, provaram que não existia rombo, mas roubo. Com as mudanças propostas pelo atual governo, com 20 anos de contribuição e a idade mínima de 62 e 65 anos, o trabalhador só terá acesso a 60% do salário de benefício, o que representa uma redução percentual de 25% do valor inicial da aposentadoria. Para ter acesso a 100% da aposentadoria, serão necessários 40 anos de tempo de contribuição, ou seja, dez anos a mais do que hoje é normalmente previsto. Ou seja, um absurdo.
O que o sindicalismo propõe para melhorar a Reforma da Previdência?
R.: Vou responder ponto a ponto, dentro da filosofia de aprimoramento do sistema e do fortalecimento institucional. Vamos lá: 1. Revisão ou fim das desonerações das contribuições previdenciárias sobre a folha de pagamento das empresas; 2. Revisão das isenções previdenciárias para entidades filantrópicas; 3. Alienação de imóveis da Previdência Social, e de outros patrimônios em desuso, por meio de leilão; 4. Fim da aplicação da DRU – Desvinculação de Receitas da União – sobre o orçamento da Seguridade Social; 5. Criação de Refis para a cobrança dos R$ 236 bilhões de dívidas ativas recuperáveis com a Previdência Social; 6. Melhoria da fiscalização da Previdência Social, por meio do aumento do número de fiscais em atividade e do aperfeiçoamento da gestão e dos processos de fiscalização; 7. Revisão das alíquotas de contribuição para a Previdência Social do setor do agronegócio; 8. Destinação à Seguridade e/ou à Previdência das receitas fiscais oriundas da regulamentação dos bingos e jogos de azar, em discussão no Congresso Nacional; 9. Recriação do Ministério da Previdência Social.
O senhor acredita que a classe trabalhadora está mobilizada?
R.: Sim, mas não o suficiente. No momento, precisamos armazenar forças, armazenar resistência. Ir pontuando e guardando energias para se impor diante do adversário e, no momento certo, ganhar a luta.